Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

Precisamos falar sobre nossas ferrovias

30/03/2023
 Precisamos falar sobre nossas ferrovias

José Manoel Ferreira Gonçalves 

 

Entre as medidas já anunciadas por Lula 3, a volta do CDESS – Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal, ou o popular
Conselhão, como ficou conhecido – é uma das mais significativas em termos
de resgate do diálogo com a sociedade civil, tão negligenciado no triste período em que durou o governo anterior.

 

A iniciativa já foi oficializada pelo Decreto 11.454/23, publicado no último 24 de março, confirmando o que já havia sido anunciado pelo ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha, artífice da retomada desse fórum e também incansável no trabalho de aproximação do Planalto com o Congresso.

 

A disposição em ouvir lideranças que possam contribuir de maneira ampla e
aberta com Brasília sinaliza esse novo momento, em que o Brasil procura
retomar um projeto de nação mais humana, com igualdade, valorização da
cidadania, oportunidades de desenvolvimento e justiça social.

 

O Conselhão nos dá a chance de trazer à mesa questões emblemáticas que
estiveram longe do debate propositivo e foram tratadas sem a visão estratégica que mereciam. É o caso das ferrovias. Abandonadas por décadas, só despertaram a atenção da gestão Bolsonaro no momento em que o nome do então ministro da Infraestrutura precisava permanecer em evidência, visando uma futura candidatura.

 

Ainda assim, o tratamento dado às ferrovias no governo anterior foi no mínimo superficial. Apressou-se em aprovar um marco legal para o setor que
atendesse apenas aos interesses de quem enxerga os trilhos como uma
ferramenta para alavancar negócios e lucros. Os mesmos grupos que se
tornaram donos das linhas férreas nos últimos anos permanecem à frente das concessões, e essas poderão ser antecipadas e continuadas por décadas. O Brasil continuará vendo suas ferrovias transportarem apenas commodities – escoamento de grãos e minério de ferro –, quando poderia revitalizar por meio dos trilhos o transporte de passageiros. Com as ferrovias, há enormes oportunidades de integração nacional, de preservação ambiental e de menor dependência do transporte rodoviário para um amplo espectro de mercadorias.

 

O diálogo no Conselhão pode ser um caminho para que o Brasil realize uma
correção de curso nas ferrovias. Há décadas o país entregou seus trilhos à
iniciativa privada. O resultado é que temos hoje uma extensa malha ferroviária sucateada, sem nenhum estímulo ao transporte de passageiros, e em detrimento à integração nacional.

 

Ferrovias são o símbolo do quão longe pode ir uma nação. O Brasil, com suas dimensões continentais, precisa com urgência de um projeto que traga
efetivamente de volta nossos trens ao horizonte do país.

 

José Manoel Ferreira Gonçalves

Cientista político, jornalista, advogado, engenheiro civil e doutor em Engenharia da Produção

 

 

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