Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

"Vi de perto o Lockdown na Itália. É de dar medo!"

10/05/2020
Dr, Carlos E. Pires: Nome conceituado em biomedicina

Dr. Carlos Eduardo Pires,


Biomedico, Especialista em Analises Clinícas pela Unifesp, Pós graduado em Análises Clínicas, MBA em gestão na Saude no  Albert Einstein, Doutorando em Saúde Pública, Professor universitário, Delegado Regional do CRBM e CEO de 6 Laboratórios de Análises Clínicas com atuação em 23 municípios Brasileiros

 

FOLHA: Como o Senhor avalia a questão do diagnóstico?
Dr. PIRES:
Isso depende dos sintomas do primeiro até o sexto dia, nós indicamos a fazer o TCR, que é o exame através do muco. Já do sétimo dia para a frente, é possível fazermos o que todos chamam de teste rápido. Aqui no Cellula Mater, nós fazemos o exame rápido que é avaliado pelo Instituto Fiocruz, o qual nos dá 95.7% de especificidade. Já os testes rápidos que vem da China, dão números bem menos expressivos como 54, 46 e 62%. Ou seja, esses testes tem um grau de especifidade muito alto.


FOLHA: Por ser um prestador de serviço do diagnóstico da COVID-19 para o poder público, já que o seu laboratório presta serviços para algumas prefeituras do Estado, como o Senhor avalia o desempenho das lideranças políticas no combate ao contágio?
Dr. PIRES:
O ideal mesmo seria que todas as pessoas fossem testadas, mas isso é impossível e, sendo assim, pelo o que Eu vejo, em Santos por exemplo, foi feita uma amostragem de 2.500 pessoas, porém, em um universo de 443 mil habitantes, é uma mostragem pequena. Bom seria fazer no mínimo algo em torno de  10% da população, para que esse número fosse melhor avaliado. Isso deveria ser feito realmente.


FOLHA: Como o Senhor avalia todos os dados que a imprensa regional vem noticiando sobre o quadro de avanço da doença na Baixada Santista?
Dr. PIRES:
Bem, Eu venho de São Paulo quase todos os dias e, percebo que muita gente de fora da região está vindo fazer o seu isolamento social aqui na praia e, isso não funciona bem. O isolamento social tem que ser feito em casa. Claro que o lado econômico para quem tem condições tem seu peso, porém, nada nesse mundo vale mais do que a Vida. Sendo assim, Eu acho que que não está acontecendo o isolamento social que deve existir.O meu medo é tal do Lockdown. Tenho muito medo disso.


FOLHA: O que o senhor chama de Lockdown?
Dr. PIRES:
É parar tudo! Fechar tudo! Trancar Tudo! Eu fui fazer um estágio sobre o coronavírus na Itália, bem no àpice da pandemia por lá. Fui para lá no da 23 de fevereiro e voltei no dia 04 de março, e vi isso de perto e sei como funciona. Por isso, não quero que chegue nessa fase, mas, muitas vezes que desço a Serra, escuto as pessoas falarem que muitas cidades no Brasil vão fazer o tal do Lockdown, sim.


FOLHA: As regiões metropolitanas parecem serem as mais afetadas?
Dr. PIRES:
Sim. Metropolitanas como a nossa. Apesar de Santos ser uma Ilha, temos entradas por todos os lados. Porém, o que me preocupa é a população carente. Nós já sabemos que nesse período de junho e julho é normal gripe, febre. Isso vai ser coronavírus, influenza, H1N1... É o quê? Sendo assim, o meu maior medo ainda está por vir. Ouviamos falar que em janeiro e fevereiro, a curva... que março e abril seriam os meses... mas não. Os piores meses serão junho e julho.


FOLHA: Já que o senhor falou da questão da periferia, como fica uma cidade como Cubatão, onde a maior parte da população se concentra em comunidades carentes?
Dr. PIRES:
Olha, não conheco muito a parte política de Cubatão, porém, em uma cidade com essas características, acho que se deve ter uma ação imediata desde já, fazendo com que esse auxílio emergencial de R$ 600,00 reais vindos do Governo Federal sejam recebidos desde já pela população. Tem que identificar quem são os mais carentes, que precisam do auxílio de verdade. As pessoas vão precisar de comida e, com mais gente testada e diagnosticada, aí partirmos para outros itens como remédios e demais necessidades. Esse ano as campanhas de agasalho terão que "bombar".


FOLHA: Voltando ao assunto do Lock Dow. Como funcionou isso na Itália? 
Dr. PIRES:
Lá teve o subsídio do Governo. Éra garantido a metade do salário para o cidadão italiano ficar em casa. É uma grande ajuda. O Lock Down lá funcionava da seguinte forma, abriam farmácias, hospitais e lugares onde vendiam comida. Esses locais abriam um dia sim, um dia não, e o resto ficava tudo fechado. Já na Alemanha, esse procedimento foi feito de forma diferente. Na parte da manhã, os idosos estavam nas ruas, pessoas entre 60 e 75 anos e, no período da tarde, saiam as demais pessoas, pois esse tipo de prática ajudou bastante. Tudo emana da educação do povo, mas principalmente do Governo em dar auxílio, principalmente com ajuda financeira. O Governo tem que literalmente bancar o cidadão, pois o cara não vai ficar em casa morrendo, pois tem que comer, beber e se vestir, o que é apenas o básico do básico. Até porque não tinhamos noção da quantidade de funcionários informais e autônomos, pois são muitas pessoas no mundo nessa situação.


FOLHA: A cura, não física, mas das cidades e do mundo está na mão de seus governantes?
Dr. PIRES:
Está nas mãos deles também, mas é necessário ter uma educação social. E para isso, é necessário ter o respaldo, ou seja, ao ivés de torrar o dinheiro, como estamos vendo com os respiradores, que custam R$ 100 mil e chegam por R$ 250 mil... há alguma coisa estranaha. Porém, não somos o Ministério Público, somos apenas o público que paga a conta.

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FOLHA: Qual dica o senhor daria para uma famìlia grande e carente?
Dr. PIRES:
O que eu poderia falar?... Lavem as mãos?... Algumas dessas famílias não tem nem acesso a água direito, imagine para algo mais específico como alcool em gel. A massa da população são as pessoas carentes, ou seja, a preferência tem que ser eles. Depois a gente vê o restante da população.


FOLHA: Qual a estratégia para sairmos vencedores de tudo isso?
Dr. PIRES:
Estatística e planejamento. Nós da Cellula Mater por intermédio disso, calculamos que Santos chegaria a 1000 casos no dia 8 de março acertamos a previsão. Planejamento é tudo. Até porque, uma pessoa contaminada, contamina até outras 19.

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