Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

O Negro no Futebol

25/05/2023
O Negro no Futebol

 

 

(*) Ismael Pereira

 

Um País colonizado por Europeus, que tinham como meio (estilo) de vida a escravidão dos negros, logicamente, com este perfil [na mente deles], não aceitavam se misturar. Era muito difícil a classe alta aceitar um negro fazendo sucesso num esporte de elite branca. Isso era uma afronta. E ai do Clube que se atrevesse.

 

É sabido na história que (a partir de 1900), Ponte Preta, São  Cristóvão, Vasco da Gama e Bangu (entre outros) foram os primeiros Clubes no Brasil que passaram por isso, pois ousaram a ter negros em suas fileiras. E, muitas vezes, pagaram caro por essa coragem à época.

 

Mais adiante, em 1921, por exemplo, o então Presidente da República Epitácio (Lindolfo da Silva) Pessoa se reuniu com diretores da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para pedir que apenas jogadores de peles mais claras e cabelos lisos fossem convocados.

 

 “Os senhores absolutos do esporte, num golpe reprovável, sem base, agindo antidesportivamente, excluem do quadro nacional […] os negros e mulatos”, publicou o jornal O País, em setembro de 1921.

 

 Apesar de Epitácio Pessoa ter negado publicamente que tenha feito tal pedido, o corte de Luís Antônio da Guia, irmão de Domingos da Guia, foi a primeira prova da veracidade da história, confirmada com a equipe sem nenhum negro ou mulato que representou o Brasil – e que foi eliminada perdendo dois dos três jogos que disputara. Lembrando que ainda não havia Copa do Mundo. Eram Campeonatos Sul-americanos. A Copa do Mundo  de Futebol só passou a ser organizada a partir de 1930, sendo  a primeira no Uruguai, nosso vizinho do Sul.

 

Já antes disso, brancos na sua essência, os clubes se organizavam em Ligas, que eram desfeitas e reformatadas à medida que os negros ameaçavam tomar partes delas. Mas o esporte, entretanto, havia transbordado os muros dos clubes de ricos e brancos. Equipes se formavam em todos os cantos e se agrupavam em campos de várzea.

 

O nome “várzea”, por essa razão, acabou servindo para designar qualquer time e qualquer campo com características amadoras, em jogos sempre aos domingos.

 

 Devido ao estatuto das Ligas oficias vetar atletas amadores “de cor” é que surgem as Ligas Negras, como a Liga Suburbana de Futebol, criada em 1907. Assim como, a Liga Nacional de FootBall Porto Alegrense (pejorativamente conhecida como Liga da Canela Preta), no Rio Grande do Sul e a Liga Brasileira de Desportos Terrestres (pejorativamente chamada de Liga dos Pretinhos), na Bahia; entre outras tantas espalhadas pelo Brasil afora.

 

A história também nos mostra que as Ligas não serviram apenas para competições em torno de uma bola de couro, mas eram também espaços voltados à sociabilidade e que serviram de resistência e luta no enfrentamento a discriminação racial.

 

Ou seja: o que se passa agora com o nosso jovem (23 anos) e negro Vinícius Jr serve para nos despertar de novo para uma reflexão acerca dessa antiga questão, principalmente diante de uma Sociedade que ainda parece estar vivendo ou revivendo os idos anos 1900.

 

 É uma triste e lamentável "História Viva". Um enredo real de mais de cem anos ainda sendo vividos como se fosse de agora. É um passado que não passou ou que insiste em não passar. Então, não é passado.

 

O tempo até passa, mas as ações ao longo das décadas e até dos séculos prá enfrentar a situação de fato têm ficado na promessa e no faz de conta. E se nada continuar não sendo feito, infelizmente será como viver na eterna conjugação do verbo "Fingir", no Tempo "Futuro  do Presente (simples) do Indicativo":

 

  Eu fingirei, tu fingirás, ele/ela fingirá, nós fingiremos, vós fingireis e eles/elas fingirão.

 

Enfim, todos (ou muitos) ainda fingem e permanecerão a fingir que está tudo bem e logo cairá, novamente, no esquecimento da Nação, notadamente da grande parte da Sociedade que interessa fingir que essa questão ainda não é prioridade do nosso País, da Europa ou do Mundo em geral.

 

 Só quem sente, literalmente, na pele sabe bem o que é.  Infelizmente, está é a realidade. Fato!

 

(*) Ismael Pereira - Jornalista e Funcionário Público de Cubatão

 

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