Cubatão, 08 de Maio de 2024 - 00:00:00

“Fantasma de Brumadinho/MG” assombra Cubatão com a Cava Subaquática e Represa do Rios das Pedras

14/03/2019
“Fantasma de Brumadinho/MG” assombra Cubatão com a Cava Subaquática e Represa do Rios das Pedras

Possíveis perigos podem estar escondidos no topo da Serra e no Canal de Piaçaguera.
 

Da Redação
 

Uma cidade com um povo pacato e trabalhador, porém com uma história triste, baseada em questões ambientais e tragédias. Cubatão, apesar de ter boa parte de seu território como área de preservação ambiental, sempre foi vista no Brasil como uma espécie de bomba-relógio. Afinal, a nomenclatura de “Cidade mais Poluída do Mundo”, adquirida nas décadas de 1970 e 80, foi algo que infelizmente se firmou por meio dos tempos em boa parte do Brasil.
 

Tragédias como a da Vila Socó (hoje São José), no ano de 1984, onde um catastrófico incêndio deixou aproximadamente 100 mortos e a terrível enchente de 2013, que praticamente destruiu o bairro de Pilões, são algumas cicatrizes que marcarão para sempre a história de Cubatão. Os títulos de Cidade Símbolo da Ecologia (reconhecida pela ONU) e o popular Rainha das Serras (devido as belezas naturais de seus arredores entre serras e manguezais), não foram suficientes para tirar “a pulga de trás da orelha”, sobre os principais riscos que Cubatão pode vir a sofrer.

 

O recado vindo das cidades mineiras de Mariana em 2015 e Brumadinho, no início desse anos, fez toda a sociedade civil de Cubatão olhar com maior preocupação para a sua até então maquiada, mas verdadeira realidade.

 

Dois pontos cruciais foram levantados nos últimos dias. O primeiro é a questão da Cava Subaquática, de responsabilidade da empresa VLI, uma subsidiada da mineradora Vale, que está sendo acusada de crime ambiental no caso do rompimento da barragem de lama tóxica em Brumadinho/MG, e que possui uma de suas empresas instaladas no Pólo Industrial de Cubatão. Já o outro contra ponto se levantou devido às fortes chuvas que causaram inundações em diversos bairros da Cidade, e citou-se a questão de uma possível inundação, caso a barragem de Represa Rio das Pedras, no alto da Serra do Mar, que já possui quase 100 anos de construção e de utilização, pudesse vir a se romper, causando uma imensa onda de água, como uma imensa avalanche de água sobre a Baixada Santista, a qual teria seu primeiro impacto sobre Cubatão, o que causaria danos incalculáveis.

 

A equipe de reportagem da Folha de Cubatão entrou em contato com técnicos de ambas as Empresas. A VLI, responsável pela Cava Subaquática do Canal de Piaçaguera e também com representantes da estatal EMAE, que administração a represa de Rio das Pedras, e colheu as seguintes informações:

 

VLI LOGÍSTICA: Cava Subaquática

 

De acordo com Alessandro Gama, Porta Voz da empresa VLI, o canal de Piaçaguera precisa ser dragado para manter a navegabilidade das embarcações que trafegam pelo local. Portanto, o processo de retirado de sedimento do fundo do Canal é contínuo e já era realizado anteriormente pela antiga Cosipa (atual Usiminas), que ainda possui um terminal na região. Segundo Gama, todos os anos, o processo de assoreamento acumula cerca de 300 mil metros cúbicos de sedimentos no fundo do canal. “Esse sedimento é de boa qualidade. São  particulados de afluentes do canal Piaçaguera, da serra. Ocorre que no passado, nos anos 70, o canal recebeu elementos químicos não apropriados e ficaram acumulados todas essas décadas no fundo do local.” Segundo Alessandro Gama, não há casos de contaminação química na vida marinha e população registrados. “Sempre houve pesca e navegação no local. Se houve contaminação, foi no passado no momento em que o material foi descartado.” O Porta da Voz da empresa afirma que desde de 2005, há um grande monitoramento com intuito de observar a vida marinha.

 

Sobre a cava, Alessandro Gama diz que o importante é garantir que o sedimento que está armazenado, não tenha mais contato e não seja exposto com o meio ambiente. Com formato cônico, a cava subaquática possui a boca de entrada com raio de 400 metros e uma profundidade de 25 metros e confina mais de 2 milhões de metros cúbicos de sedimentos.

 

Gama afirma que a cava não oferece riscos, e que não há comparação entre o que ocorreu em Brumadinho e que o pode vir acontecer na Baixada. O grande perigo de contaminação do estuário foi durante a limpeza do canal, o que já foi realizado.  “O grande temor que foi colocado na cabeça do pessoal aí na Baixada, é que esses 2 milhões de metros cúbicos de sedimentos, comecem a correr pelo canal e atingir a praia... Isso não vai ocorrer! Esse material está dentro de um meio aquático, a cava está no subsolo numa planície marítima. Não faz nenhum sentido isso acontecer”.   

 

EMAE: Represa do Rio das Pedras

 

Já sobre a Barragem da represa do Rio das Pedras, a assessoria de imprensa da Emae respondeu por nota que a construção é de natureza totalmente diferente da barragem de Brumadinho. As barragens de concreto, como a do Rio das Pedras, são estruturas construídas sobre fundações sólidas, tendo como principal característica a solidez dos materiais componentes e a sua permanência no eixo de fundação, o que resulta em grande segurança à barragem, sendo um dos métodos mais seguros de construção existente. A barragem de Brumadinho é uma estrutura de contenção de rejeito, construída a partir de um dique inicial e seguidamente ampliada pelo método montante, deslocando-se do seu eixo de origem, por meio de material, em sua grande parte, oriundo do próprio rejeito de mineração. 



A inspeção de segurança regular da barragem do Rio das Pedras é realizada semestralmente, sendo mais conservadora do que a prevista em lei e resolução, que é anual. Além da inspeção supra, é realizado o monitoramento quinzenal da barragem através de instrumentos específicos. A última inspeção de segurança, realizada em dezembro de 2018, caracterizou o estado de risco como normal, conforme a resolução 696 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), de 2015, que define o referido estado quando não houver anomalias ou, no caso de existirem, essas não comprometem a segurança da barragem. A barragem possui também planos de segurança e de ação de emergência. 

 

Técnicos e ativistas comentam riscos

 

Apesar das explicações tanto da VLI como da EMAE sobre que os riscos que a Barragem e a Cava são praticamente nulos, a reportagem da Folha foi ouvir uma segunda versão dos fatos.

 

Sobre a cava, a representante da movimento “A Cava é Cova” (fundado no final de 2017, para combater a manutenção da cava de resíduos), e bióloga marinha Cintia do Prado afirma que os danos da Cava são diferentes das barragens de Mariana e Brumadinho, e que já estão ocorrendo: “Não será um dano explosivo como foram os das barragens mineiras, até porque estamos falando de um material que está submerso e confinado. No entanto, apesar de os efeitos começarem a aparecer de uma forma mais gradual (médio e longo prazo) no final do impacto, as consequências pode ser as mesmas, ou até mesmo maiores”, explica a bióloga.

 

“No entanto, podemos perceber que muitos dos pescadores do Canal de Piaçaguera já mudaram e muito suas rotinas, pois se deslocaram suas pescarias para da região da cava, por alegarem que a quantidade de peixes nos arredores de onde estão depositados os resíduos diminuíram consideravelmente. Outro ponto a ser levado em consideração é que o rompimento dessa cortino de filtro que envolve todo compartimento da Cava ode ocorrer a qualquer momento, se considerarmos que navios de grande perto navegam pelo canal do Estuário desde a entrada do Porto de Santos até os terminais marítimos situados no Polo Industrial de Cubatão”, finaliza a ativista.

 

Geólogo diz que Represa é segura -  O geólogo Mauricio Dantas diz que não há razão para alarde e que a barragem de rejeitos de Brumadinho é muito diferente da represa do rio das Pedras que está localizado no alto da Serra do Mar. Segundo Dantas, a operação na barragem de rejeitos em Minas Gerais é arriscada. “Em outros países esse tipo de procedimento é proibido”, afirma o geólogo.

 

No caso de Cubatão, apesar da idade da construção (começo do século passado), a represa foi feita com concreto armado, o que garante alguma segurança. Além disso, a barragem é o maciço rochoso da Serra do Mar. A represa é interligado ao sistema Billings.  Até o começo dos anos 1990, a água represada era praticamente toda utilizada na geração de energia, porém a regra mudou, e hoje, boa parte da água é usada para o consumo.

 

Mauricio lembra que a estatal Emae é a responsável pela fiscalização do local.

 

 


 

 

 

Comentários

  • Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Aguarde..