Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

ENTREVISTA: "Ser um hospital sustentável é estar aberto daqui há 50 ou 100 anos"

25/05/2020
ENTREVISTA: Alexandre Hashimoto é conceituado gestor hospitalar

VALENTIM CARDOZO

Da Redação

 

Alexandre Hashimoto 
 Gestor em sustentabilidade para serviços de Saúde
 e ex-diretor do Hospital de Cubatão

 

FOLHA DE CUBATÃO - Como você avalia o sistema organiacional dos hospitais brasileiros para o enfrentamento da COVID-19?


A. HASHIMOTO - Temos dois cenários. O primeiro deles são os hospitais de que alguma maneira se anteciparam ao cenário de evolução da pandemia, desde os primeiros casos entre o final de novembro e o início de dezembro do ano passado, na China. Com isso, protocolos foram preparados assim como estoques de segurança, quanto a EPI's e também armezenamento de alocool em gel, que hoje são itens de extrema importância e de escassez no mercado, com preços elevadíssimos. Também temos outros hospitais, pronto socorros e UPA's que não se prepararam e foram pegos de surpresa devido o avaço da pandemia, os quais hoje estão sofrendo bastante.


FOLHA DE CUBATÃO - Devido a sua experiência internacional, como você compara o Brasil em gestão e sustentabilidade hospitalar com outros países, os quais você já esteve?


A. HASHIMOTO - Esse tema apesar de não ser um tema novo, ainda é complicado, porque a maior parte das instituições gostam de alardiar dizendo-se sustentável ou diversas práticas de responsabilidade social, porém, na verdade, a sustentabilidade em si é a existência a longo prazo, como de 50 a 100 anos respectivamente. Hoje, na saúde principalmente o entendimento de sustentabiliade é que se precisa gerenciar resíduos. No entanto não é só isso, pois falamos de equilíbrio financeiro, da gestão ambiental causada pelo impacto de um equipamento de saúde, que normalmente não fecha as portas nunca. A partir daí vem o foco de engajamento com as pessoas no meio da sociedade no qual ele está inserido.


FOLHA DE CUBATÃO - Como alguém que já trabalhou de norte a sul no país, o Brasil sofre com a despadronização de suas gestões hospitlares?


A. HASHIMOTO - Sem  dúvida alguma, porque a gente vê um movimento hoje muito forte. Porém, isso é  uma questão a qual está englobada a sustentabilidade, mas infelizmente, não existe uma estratégia clara, embora já existam diretrizes internacionais e naicionas, os hospitais acabam fazendo muito a sua maneira. Diferente por exemplo o que é com a a qualidade, que a gente tem alguns modelos de certificação de acreditação hospitalar que já são bem instituídos. Sendo assim, a gente carece ainda de uma estratégia a ser aplicada em diversos serviços de saúde.


FOLHA DE CUBATÃO - Por ser da Baixada Santista e mais especificamente de Cubatão, como você avalia o atual quadro dos hospitas em nossa região e também na cidade?


A. HASHIMOTO - O que acontece aqui é o mesmo movimento que vem acontecendo a nível nacional. O mercado privado vem passando por um momento de desconsolidação desde 2015, com o início da crise. Houve a possibilidade de aporte de capital estrangeiros e diversos hospitais, os quais vem sendo adquiridos, como na região do ABC. Aqui na Baixada já é possivel ver também esse tipo de expansão, porém, o mercado privado de saúde vem perdendo diversos clientes, sendo assim, é fundamental que as organização de saúde pública estejam estruturadas para poder conter esta demanda, que é crescente.


FOLHA DE CUBATÃO - Qual a diferença de se administrar de maneira sustentável, financeira e organizacional o sistema público do privado?


A. HASHIMOTO - A diferença é que quando você tem a sustentabilidade como diretriz no serviço de saúde, você cria um engajamento muito maior com a sua comunidade, além de atuar no seu "extra muros". Há a possibilidade de se reduzir significativamente o impacto ambiental da operação, visto que um hospital gera resíduo químico, infectante e consome muitos recursos naturais. Os profissionais de saúde geralmente tem um alto índice de absenteísmo, que é a rotatividade quando os funcionários acabam saíndo por conta de um ambiente bastante estressante. Quando você em a estratégia de sustentabilidade é bem fundamentado, acaba por valorizar o seu colaborador e cliente. Assim os custos são reduzidos e consequentemente há a melhora financeira e a longevidade da instituição.

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FOLHA DE CUBATÃO - Qual a vantagem de um bom plano sustentável na área médica em ambos os setores?


A. HASHIMOTO - Quando se fala em sustentabilidade, normalmente se imagina a questão ambiental, porque simlesmente convencionou-se a falar do verde. Mas na verdade, o conceito é se as empresas (nesse caso as hospitalares) estarão abertas daqui há 50 ou até mesmo 100 anos. Isso depende muito de quão responsável é a gestão do hospital, no sentido do controle efetivo dos custos, das receitas e valorização das pessoas como o engajamento com a comunidade na qual estamos inseridos.Também é necessário uma política de transparência na prestação de contas no uso dos recursos para que isso possa trazer credibilidade a sua marca e cliente, independetemente se o hospital é publico ou não. Há a necessidade de se pensar nisso.


FOLHA DE CUBATÃO - Funcionários e comunidade?


A. HASHIMOTO - Quando há um hospital nesses moldes, temos um colaborador muito mais engajado, pois quando ele pensa nas condições de trabalho adequado, o respeito as leis trabalhistas, a jornada de trabalho e dar as condições a ele de participar da gestão, a qual chamamos de gestão participativa, você aumenta o senso de pertencimento, que é o orgulho que o funcionário ou colaborador tem de fazer parte daquela instituição, aumentando a sua atratividade como empregador. Visto que na saúde a rotatividade de colaboradores principalmente na área de apoio é bastante grande, principalmente no caso da comunidade, quando um hospital é protagonista no meio no qual ele interage, o mesmo busca como a ajudar a solucionar os problemas de quam está ao seu entorno.


FOLHA DE CUBATÃO - O que a prefeitura de Cubatão poderia estar fazendo para tentar adotar esses parâmetros em sua gestão de Saúde?


A. HASHIMOTO - O município segue a lógica da evolução na saúde no país, que é buscar melhorar a qualidade do atendimento.  É importante em Cubatão uma boa integração entre o Hospital, o Pronto Socorro e as UBS's. Trabalhar fundamentalmente a questão da sustentabilidade ambiental melhorando as questões hídricas e energéticas, visando diminuir os custos. Trabalhar o novo contexto de atendimento ao cliente, sempre com o olhar de melhora para todos os aspectos.


FOLHA DE CUBATÃO - O que esperar de gestão hospitalar em uma cidade como Cubatão, que tem uma receita acima de média?


A. HASHIMOTO - Sempre se espera algo bom, desde que essas receitas sejam bem investidas. Até porque a saúde é um dos carros chefes em qualquer governo, independente de ser em esferas federais, estaduais ou municipais, como o caso de Cubatão. A saúde é uma composição muito grande na questão da qualidade de vida do cidadão, pois quando olhamos para novas tendências, esses recursos surtirão efeitos se forem bem aplicados.


FOLHA DE CUBATÃO - Como uma boa administração hospitalar verceria o COVID-19?


A. HASHIMOTO - Com o avanço da pandemia nesses últimos meses, os protocolos de atendimentos a casos suspeitos ou confirmados devem estar bem constituídos. Os quadros de funcionários na saúde já são bem afetados, pois estamos tendo grande volume de funcionários afastados. mas sempre que possível manter distante das instalações do hospital, os funcionários pertencentes ao grupo de risco, que estejam apresenetando qualquer sintoma e encaminhá-los para o tratamento home-office, deixando na linha de frente funcionários com melhores condições para o enfrentamento. Sempre que possível afastar os pacientes suspeitos de pessoas com outras enfermidades. Essas são medidas importantes a serem tomadas.


 

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