Imigrante africano juntamente com filho de 10 anos acusam de discriminação secretário de Assistência Social de Cubatão.
VALENTIM CARDOZO
Da Redação
Membros do Conselho Municipal da Igualdade Racial de Cubatão e demais simpatizantes de movimentos sociais em defesa das minorias, realizaram na manhã da última sexta-feira dia (18) um ato de repúdio em frente ao restaurante Bom Prato (instrumento do governo no Estado que fornece refeições pelo valor de R$ 1,00 para em pessoas em situação de vulnerabilidade social). O manifesto se deu referente ao caso do imigrante ganês Kofi Boakye Acheampong, que alegou ter sido discriminado por xenofobia (crime de descriminalização por naturalidade, juntamente com o filho de 10 anos de idade, dentro do mesmo restaurante), pelo secretário municipal de Ação Social, Sebastião Ribeiro, mais conhecido popularmente na cidade como Zumbi.
Faixas, cartazes, autofalantes e registro de imagens. Tudo isso unido a discursos inflamados em apoio a pai e filho de origens africanas, ecoaram na porta do Bom Prato, onde logo gerou aglomeração de pessoas, dificultando o trânsito de veículos e o fluxo de pedestres no local. Funcionários do restaurante popular foram até os portões para tentar conversar com os manifestantes e impedir que eles adentrassem ao prédio.
Segundo a presidente do Conselho, Paloma dos Santos, a notícia foi recebida com muita repugnância por parte do órgão, pois segundo ela, situações dessas em Cubatão, têm sido constantes. “O que aconteceu aqui com o Kofi foi um tipo de preconceito institucional, ou seja, ocorreu de forma estrutural, além do nítido caso de xenofobia e de uma criança de 10 anos ter sido impedida de se alimentar, em um lugar no qual eles realizam suas refeições diariamente. Houve humilhação e estamos pedindo esclarecimentos aos órgãos competentes, para que eles nos expliquem o que aconteceu aqui, pois apenas pedidos de desculpa não é o suficiente”, disse.
KOFI – A reportagem da FOLHA DE CUBATÃO, que estava acompanhando o manifesto, conseguiu uma entrevista com o ganês Kofi Boakye (44).
Ele relata, que naquele dia, pai e filho estavam separados por algumas pessoas na fila, e quando seu filho pegou a bandeja do almoço, viu que o suposto gerente do local, começou a gritar dizendo que a criança estava atrapalhando o andamento dos serviços. Para defender o menino, Kofi se dirigiu ao gerente dizendo para ele não gritar pois era apenas uma criança.
O gerente, então, pegou a bandeja, colocou em cima de uma mesa e pediu para conversar com Kofi do lado de fora, onde foi apresentado para o secretário municipal de assistência social Sebastião Ribeiro, o Zumbi, que costuma estar todas as sextas-feiras no Bom Prato para acompanhar o andamento do trabalho. “O gerente tentou me agredir e Zumbi disse que eu não teria o direito de ir Bom Prato por não ser Brasileiro”, relatou o imigrante ganês, que ainda teria ouvido o secretário dizer que “ele veio de um país de bosta...”.
ZUMBI – A FOLHA DE CUBATÃO entrou em contato com o secretário Sebastião Ribeiro “ZUMBI”, que em depoimento exclusivo a nossa equipe de reportagem ter apenas explicado ao rapaz que ele deveria respeitar as regras estabelecidas no local e os funcionários do Bom Prato, e não tratar de forma agressiva e desrespeitosa. “Os funcionários daqui já me informaram que ele sempre causa tumulto e já chegou até a ameaçar alguns deles, o que pode ser comprovado pelas próprias câmeras de monitoramento instaladas nas dependências do restaurante”, disse Zumbi.
PREFEITURA - Em nota, a prefeitura de Cubatão rechaçou qualquer atitude de cunho xenófoba e esclarece que os fatos ditos por Kofi não condizem com o ocorrido, já que o secretário Sebastião Ribeiro foi procurado pelo ganês no dia 11 de março, após ter sido atendido no Bom Prato e ofendido com palavras de baixo calão. Zumbi, por sua vez, teria apenas explicado as regras de funcionamento do Bom Prato, que valem para todos os clientes do local.
Já a Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) do Estado, que é responsável pelos restaurantes Bom Prato, diz não compactuar com nenhum ato de preconceito dentro de seus equipamentos e que o Bom Prato tem a inclusão, o acolhimento e a dignidade às pessoas em maior situação de vulnerabilidade como suas principais características. A nota diz ainda que a pasta já iniciou a apuração dos fatos e, caso a denúncia seja confirmada, tomará as medidas cabíveis.
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