Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

Sem política cultural, Cubatão tem um passado maior que seu futuro

02/12/2021
Sem política cultural, Cubatão tem  um passado maior que seu futuro

 

 

Legado do prefeito Ademário submete futuras gerações ao

desalento e à realidade esteticamente desumanizada

 

IVO DE OLIVEIRA

 

Está em curso um projeto de desmonte da cena cultural em Cubatão. O plano, friamente calculado pelo prefeito Ademário Oliveira, (PSDB), inclui sucateamento dos equipamentos culturais, contingenciamento de recursos, desprezo pelos coletivos culturais e esquartejamento dos corpos artísticos estáveis de Cubatão. Vivem agora de voluntarismo, memórias e lampejos de um passado glorioso, Banda Sinfônica de Cubatão, Banda Marcial de Cubatão, Grupo Rinascita de Música Antiga, Coral Zanzalá, Cia. de Dança de Cubatão, Coral Raízes da Serra e Programa BEC – Banda Escola de Cubatão.  

 

            O desmantelamento institucional da cultura dos últimos anos jogou ao chão peças fundamentais, que formaram por décadas o sentimento de pertencimento do povo de Cubatão a um remanso entre serras e ao seu conjunto de valores imateriais. Sufocando como píton o fazer cultural no município, o prefeito se associa ao reacionarismo atrasado da elite xucra brasileira, que tem como lobista máximo o mito de si, Jair Bolsonaro. 

 

Na raiz desse desmonte, reside o pensamento elitista de que pobres nasceram para produzir bens de consumo e que só uma minoria privilegiada pode produzir bens culturais. Esse subproduto da lógica fascista é frontalmente combatido pelo juízo da cultura como produção humana, como aquilo que nos permeia e nos faz gente, como bem defendeu o sociólogo galês Raymond Williams, (1921-1988).

 

Em tempos de crise econômica e sanitária, no contexto da precarização do trabalho e da desvalorização da mão de obra assalariada, a tentação medieva política vê  a cultura como supérfluo, a ser armazenada em uma nuvem apartada da condição humana. E é justamente essa inflexão que torce o parafuso da desigualdade social. Quanto mais cultura e educação, mais consciência de classe, mais distribuição de renda e mais valor à mão de obra operária.

Em síntese, o crítico literário estadunidense Fredric Jameson, (1934), defende a cultura como campo que liga história e consciência de classe. Neste asserto, não é exagero afirmar que com o fim dos grupos artísticos estáveis de Cubatão, o governo municipal atinge a dignidade do povo cubatense, por enfraquecer vínculos com os ideais, estéticas e símbolos que traduzem a auto estima da nossa gente.

 

O prefeito com um dos maiores PIBs per capita do país mantém política cultural desidratada, com estrutura hierárquica por fora, mas esvaziada por dentro. Com seu recuo sistemático da oferta de serviços públicos tal como a agenda neoliberal, joga na vala educação, cultura e esporte. Assim, o inculto edil relega a juventude a uma realidade desumanizada e sem perspectiva, numa cidade em que o passado se mostra maior que o seu futuro.

 

Jornalista Ivo de Oliveira. MTb 35804

ivosantista@gmail.com

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