Cubatão, 16 de Maio de 2024 - 00:00:00

CRÔNICA AO (eu)GÊNIO

14/03/2019
CRÔNICA AO (eu)GÊNIO

CRÔNICA AO (eu)GÊNIO
 

Me sinto traída pelos próprios sentimentos. Traída por perder o controle emocional diante da notícia que vitimou Boechat. E quem sou eu pra sentir alguma coisa?
 

Eu sou aquela que contrariava um colega, na redação das emissoras pelas quais passei, animado em dar alguma notícia quente, antes de entrarmos no ar, eu os esfriava dizendo: "não, mas o Boechat disse isso agora na rádio, eu vim ouvindo no carro".
 

Eu sou aquela que assistia de 4 a 5 telejornais por dia e (de longe) elegia o Jornal da Cultura e da Band como os melhores. Dispensável destacar o papel ímpar de ambos âncoras: Willian Corrêa e Ricardo Eugênio Boechat.
 

Críticos (em sua minoria) o chamavam de Boechato, o caricato, mas eu prefiria chamá-lo de ricÁRDUO, diante da sua língua ferina, coisa que minha mãe também sempre me disse que tinha.
 

Nascido na capital portenha, visitada por mim no aniversário de 2013, me pego pensando o que fiz da minha vida de lá pra cá, durante esses quase 06 anos que se passaram...
 

Me sinto uma estúpida por ter adiado meus projetos, sonhos e planos. Deixei pelo caminho, linhas que (como estas), já deveriam estar transcritas em cento e poucas páginas de celulose branca, em brochura lançada por alguma Editora das quais eu venho fugindo, me sabotando dos dois livros que estou escrevendo desde 2015 e nunca termino.
 

A morte dele, coincide com a morte de um tio querido, na última semana (pela qual ainda me sinto enlutada), bem como com uma decepção amorosa ocorrida ontem, cuja traição em palavras e a negativa de auxílio momentâneo, me fizeram uma fenda mais profunda do que o pior corte acidental de um punhal enferrujado.
 

E o que é esse ínfimo ato de covardia amorosa, perto da morte de um tio que me ajudou a voltar pra TV, a fim de apresentar um telejornal do qual eu jamais imaginava fazer, e, detalhe: sem contar com meio por cento sequer da estrutura das outras TVs.
 

Com a morte do Boechat, morreu também a Saphira procrastinadora, por vezes preguiçosa, indisciplinada e conformada. A morte do Boechat me mostrou que querendo nós ou não, a vida passa, amores vão e vem. O que não podemos, apenas, é tratar o tempo com desdém.
 

Pai de 06 filhos, Pai aos 50, Pai aos 60, quem sou eu pra me achar velha, ainda caminhando para os 40?
 

Tão querido, tão premiado, tão comprometido, tão devotado, tão despido, tão falado, tão polido, tão amado.
 

Sim, o Brasil está calado.

 

Ele morreu voltando de uma palestra, que já assisti (sortuda) em 2016. Morreu no ar, tentando pousar. Morreu para o jornal, que nunca mais o mesmo será. Morreu pra rádio (que hoje muda está), onde nunca mais o ouviremos tagarelar, sorrir e cobrar. Eu amava aquele jeito peculiar de ser popular! Morreu no plano físico, mas dentro de nós, pra sempre viverá.

Eu vou é tomar vergonha na cara e voltar a apresentar.

Me sinto revirada, esvaída, tentando superar.

Estou despedaçada, mas Deus contigo está.

À essa altura da vida, posso tudo, menos parar.

Não há mais o que escrever, apenas chorar.

Obrigada por tudo,

estimado e eterno Boechat.

12/02/2019 - 6h15.

SAPHIRA DUARTE
JORNALISTA - DRT 2.631

Comentários

  • Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Aguarde..